10 anos de luta contra os padrões - NÃO FAÇO NOIVA PLIS SIZE…

“Eu não faço noivas plus size”: a mentira mais repetida sobre mim

Eu perdi a conta de quantas vezes tive que ouvir – e desmentir – essa frase absurda: “a Juliana não faz vestidos para noivas plus size”. Já virou bordão nos grupos de ódio, já virou tema de vídeo sensacionalista, já virou print distorcido por quem nunca pôs o pé no meu ateliê. E, claro, é mais uma mentira que repetem até cansar, porque é assim que funciona uma narrativa de ataque: repete até parecer verdade, mesmo que não tenha prova alguma.

Aliás, já aviso: não é de hoje que eu falo sobre isso. Tenho vídeos, posts antigos, depoimentos de clientes – tudo público, tudo real. Vou até colocar aqui um link de um vídeo meu de 2021 para 2022, onde eu já deixava muito claro:

https://www.instagram.com/reel/CSXCdc-Hsve/?igsh=bnlnMGFpdTkxcDBkeu não faço “noiva plus size”. Eu faço vestido de noiva. Ponto. O corpo da mulher não é e nunca foi uma barreira pra mim.

E por que isso? Porque pra mim não interessa seu corpo, sua cor, sua religião, sua orientação sexual ou sua limitação física. NADA disso é problema. Sempre foi sobre acolhimento e respeito, porque eu mesma cresci sendo alvo de preconceito por causa do meu corpo. Eu sei na pele o que é ser minoria, ser desacreditada, ser invisibilizada. E justamente por isso, jamais faria isso com outra mulher.

Mas a gente vive numa sociedade que educa mulheres para agredirem outras mulheres. A rivalidade feminina é incentivada, é celebrada, é ensinada desde cedo – e, sim, eu já fui vítima e também já fui carrasca disso, lá na adolescência, sem consciência. Só depois de muito viver, errar e buscar entender o mundo, fui vendo como é nocivo e banal. A agressão entre mulheres é normalizada a tal ponto que quando alguém, como eu, resolve ser direta e verdadeira, vira alvo fácil. Sempre fui intensa, falo as coisas de forma honesta (às vezes até demais, admito – TDAH não ajuda!), e talvez por isso incomode tanto. Hoje, medicada, aprendi a pensar três vezes antes de falar, a ser mais suave, mas nunca a mentir para agradar.

No mundo dos casamentos, a pressão do corpo perfeito é multiplicada por mil. Tudo gira em torno da aparência – e qualquer mulher que saia do padrão sente na pele o peso do preconceito. Noiva gorda, noiva baixa, noiva alta, noiva com seios grandes, noiva com nanismo… Já atendi todas elas. Sabe o que ouço sempre? Que em outras lojas foram recusadas, ouviram absurdos, chegaram a ser encaminhadas para a seção de “daminha” porque não havia vestido de mulher para elas. Outras, porque o busto não encaixava, porque a altura era “difícil”, porque o manequim não existia. O meu ateliê sempre foi, desde o início, justamente o oposto disso. Se existe um legado do Ateliê JS, é o da inclusão – principalmente a partir do segundo ano, quando tive contato com tantas histórias de mulheres incríveis e percebi o quanto faz diferença ser recebida de braços abertos.

E sabe por que meu ateliê cresceu tão rápido? Porque sempre fiz questão de mostrar mulheres reais, não modelos profissionais. Sempre convidei minhas noivas a se verem bonitas, a se verem protagonistas do próprio sonho, sem filtro, sem maquiagem pesada, sem pose forçada. Pode ir no feed do Ateliê JS conferir, e logo mais você vai poder ver ainda mais, porque tive que arquivar centenas de posts antigos por causa do stalking dessas páginas de ataque, mas vou reabrir tudo em breve. Tenho orgulho da minha história, não vou deixar que apaguem. Só arquivei para me proteger enquanto a perseguição estava mais pesada, mas cada depoimento está salvo e vai voltar ao ar.

Essas mulheres que me atacam hoje tentam apagar minha história porque sabem que nunca terão provas do que dizem. Sabem que a narrativa do “não faz plus size” é fácil de repetir, difícil de provar – porque nunca existiu. E é por isso que nesse post faço questão de trazer verdades, nomes, rostos e relatos reais. E faço um convite: visite meu ateliê, converse com minhas clientes, veja as fotos, pergunte sobre o acolhimento. Não existe e nunca existiu discriminação aqui – e esse é um dos maiores orgulhos da minha trajetória.

E para as mulheres que estão lendo, saibam: aqui, seu corpo não é problema. Você não precisa se encaixar em padrão nenhum. Você é bem-vinda exatamente como é – porque todo corpo merece viver o sonho do casamento, sem medo, sem vergonha, sem preconceito.

Bruna: o início de uma nova história no Ateliê

Quando o Ateliê começou a ganhar mais visibilidade, ali por 2015, eu ainda tinha atendido poucas noivas que se enquadravam no que o mercado insiste em chamar de plus size. Isso porque, na nossa sociedade, qualquer mulher que saia do manequim 38 já é tratada como “fora do padrão” – um absurdo completo, visto que o real plus size nem é isso, e sim corpos que realmente fogem dos números mais vendidos nas lojas. Inclusive, várias vezes, atendi mulheres que vestiam 40 ou 42 e já chegavam com medo, dizendo que iam emagrecer para o casamento, pedindo para não tirar as medidas ainda porque estavam na “meta dos menos 20kg” até o grande dia. Sinceramente? Chega a ser cruel o tanto de pressão e violência estética que vejo nesses relatos

No começo da minha carreira, confesso que eu também não tinha muita procura de noivas plus size – não por falta de vontade, mas por puro reflexo de como o mercado invisibiliza essas mulheres. Isso começa a mudar em 2016, quando conheço a Bruna. Ela foi um divisor de águas na minha trajetória como estilista e também na minha vida pessoal.

A Bruna me procurou porque ouviu falar do meu trabalho, mesmo não sendo de Goiânia – ela é de Marília, interior de São Paulo, e tinha acabado de se mudar para cá. Desde o primeiro contato, rolou uma conexão muito forte. Descobrimos que éramos “da mesma tribo”: nerds, apaixonadas por séries e livros, mulheres com histórias e vivências parecidas, principalmente sobre corpo, autoestima e coragem de ser quem somos.

Quando chegou a hora de fazer o vestido, ela comentou que gostaria de emagrecer uns 10kg até o casamento, mas depois me disse, rindo, que não só não emagreceu, como ainda ganhou uns quilinhos a mais. E sabe o que mudou para mim? Absolutamente nada. Ela confiou em mim, confiou no meu trabalho, e eu, como sempre, fiz o vestido do corpo real dela, para o corpo dela, com as medidas reais e sem essa cobrança do “tem que caber no vestido”. O vestido é que tem que caber em você. Essa frase, aliás, virou meu mantra.

O casamento da Bruna aconteceu em 2016. Depois desse momento, nossa amizade só cresceu. Hoje, a Bruna é uma das minhas melhores amigas, é madrinha da minha filha caçula Aurora, e faz parte da minha vida em todos os sentidos – inclusive no departamento jurídico do ateliê, porque ela é advogada, especialista em direitos humanos e contratos, e ajudou a escrever e revisar todo o nosso contrato. Foi ela quem me ajudou a enfrentar 2018, ela quem conversou com noivas, tirou dúvidas e, acima de tudo, me deu suporte quando precisei. A Bruna conhece minha história de perto, acompanha tudo desde o início, e hoje também é uma das minhas maiores defensoras – e testemunha, inclusive, contra as mentiras que espalham sobre mim.

Acompanhei a história dela por muitos anos, inclusive nos momentos difíceis. Na pandemia, como tantas pessoas, ela ganhou mais peso, se viu insatisfeita e resolveu mudar tudo: se divorciou, passou por um processo duro de autoconhecimento e, mais tarde, fez bariátrica. Hoje, com corpo e mente renovados, ela empodera outras mulheres, é professora de Direito, conta sua história sem vergonha de nada e segue sendo inspiração. Já fiz vários vestidos para ela depois do casamento: de madrinha, de festa, de formatura, de tudo. E, acredite, ela sempre foi linda em todas as fases.

E aí vem o ponto crucial desse texto: Bruna sempre foi linda e segura, mesmo quando o mundo dizia o contrário. Ela era (e ainda é) motivo de inveja em eventos – não porque era magra, mas porque vestia com orgulho um vestido feito sob medida, feito para ela, feito para exaltar quem ela é. Muitas vezes, a pergunta era: “Como essa mulher fora do padrão pode estar tão bonita e tão segura?” E é aí que o incômodo começa, não comigo, mas com as pessoas que veem uma mulher fora do padrão se amando e sendo amada.

Foi a partir desse momento – com a Bruna e tantas outras que vieram depois – que minha voz começou a incomodar ainda mais. Quando comecei a dar espaço e protagonismo para mulheres fora do padrão, fui atacada, cancelada, perseguida. O TikTok amplificou isso. Meu discurso – de que toda mulher merece se sentir linda e respeitada, sem precisar emagrecer ou se encaixar em padrão nenhum – começou a irritar muita gente. Porque mexe com a base de uma das indústrias que mais lucra no mundo: a indústria da insegurança feminina.

E nunca foi sobre mim. Sempre foi sobre quem está de fora olhando, sentindo-se agredido por ver mulheres se amando e vivendo plenamente, sem vergonha do próprio corpo. Inclusive, é exatamente por isso que tanto me atacam hoje – para tentar apagar a minha história, distorcer as minhas falas, convencer o público de que tudo que fiz foi marketing vazio. Só que aqui não tem marketing. Aqui tem história, tem vida real, tem acolhimento.


Hoje, a maioria das minhas clientes são mulheres fora do padrão, que se sentem acolhidas, que sabem que aqui vão ser respeitadas do jeito que são. Muitas não querem nem aparecer no feed, mas guardo cada história, cada foto, cada transformação. E, para cada mentira inventada sobre mim, existem centenas de provas reais, dezenas de depoimentos e fotos – que eu vou seguir mostrando, porque a verdade sempre vence, por mais que tentem apagar.

Aqui, nunca foi a mulher que teve que caber no vestido. Sempre foi o vestido que se moldou à mulher.

E assim vai ser enquanto eu existir nesse mercado.



O que querem apagar é resistência, não é só história

E para finalizar esse post, que é, sim, um desabafo pessoal, mas também um manifesto de resistência, preciso dizer: eu vou resistir. Já resisti. Já sobrevivi ao que parecia impossível e sigo em pé. Mais do que nunca, vou dar ainda mais voz para contar a história dessas mulheres incríveis que passaram pelo meu ateliê. Cada uma delas trouxe um novo olhar sobre quem eu sou e para quem eu quero criar — e o caminho do Ateliê daqui pra frente só se expande, porque ninguém apaga o que é real.


Esse ano foi de muitas descobertas, de entender para quem eu crio, o que eu quero deixar como legado, quais os próximos passos do Ateliê. Não vou parar de criar. Ao contrário: a partir de agora, as criações vão se multiplicar — vêm aí camisetas, artes impressas, vestidos ainda mais únicos e mágicos para o ano que vem. Mas o mais importante é que cada nova peça continuará incluindo todos os perfis de corpos e estilos, como sempre foi. Porque só assim faz sentido pra mim.


Um dia — e eu sei que esse dia vai chegar — minha história vai ser contada em exposições, em livros, em museus. Pode demorar, mas não tenho dúvida: toda vez que visito a história de um grande artista, vejo dois pontos em comum. Primeiro: esse artista foi perseguido, questionado, humilhado, teve sua dor exposta simplesmente por ousar ser quem é, por defender o que acredita. Segundo: depois de resistir a tudo isso, sua história vira símbolo, referência, inspiração. Eu me vejo nesse caminho. O próprio ChatGPT já me comparou à Frida Kahlo: uma mulher que sofreu ataques por ser intensa, por usar cores fortes, por não esconder sua deficiência, por incomodar os padrões — e que só foi reconhecida como ícone muito depois, quando já não estava mais aqui. Recentemente fui à exposição do Ney Matogrosso, vi o filme dele, e é a mesma história: quem foge do padrão, quem não serve ao sistema, vira alvo do ódio, do deboche, do boicote. Mas, no fim, quem sobrevive vira símbolo. Eu já era isso antes de tentarem me apagar — e agora, renascida, estou ainda mais forte.


O mais doloroso nesse processo todo foi ver quantas clientes minhas, pessoas que já tinham vivido esse acolhimento, se deixaram contaminar pela mentira. O perigo de uma narrativa bem contada, repetida à exaustão, é real: pode destruir reputações, apagar trajetórias, colocar tudo a perder. Por isso, cada post desse blog é um pedaço da verdade resgatada. Aqui estão relatos, fotos, histórias que ninguém apaga.


Eu não serei só mais um nome esquecido ou uma injustiça arquivada. Essa é uma das páginas mais importantes da minha trajetória e vai ser contada, sim, quantas vezes forem necessárias, para que inspire outras mulheres, meninas, meninos, gente de todo tipo, a enxergarem além da mentira — a enxergarem a verdade, e a respeitarem a existência de quem ousa ser diferente.


Deixo esse convite: comente, compartilhe, converse. Aqui neste blog tem de tudo — relatos leves, outros duros, mas todos verdadeiros. Entre um parágrafo e outro, coloquei fotos das minhas noivas mais emblemáticas. Todas chegaram até mim com dores, com traumas, por não se encaixarem em padrões — e saíram daqui sorrindo, vivendo sonhos, reconhecidas e respeitadas. Essas mulheres não precisam ir para a internet me defender, porque sabem a diferença que fiz na vida delas, e eu também sei.


No fim, não é sobre ego. Não é sobre aplauso. É sobre respeito, sobre verdade, sobre justiça — e sobre nunca, jamais, aceitar que apaguem a nossa história.



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