Post 12 e 13 - continuação de mais dois vídeos meus

Análise – Postagens 12 e 13: Quando minha história vira munição para ódio

Nos posts 12 e 13 da página “Vítimas da Estilista”, foram publicados, mais uma vez, vídeos de minha autoria — recortados e repostados — em que relato trechos da minha trajetória pessoal e profissional. Esses vídeos, originalmente postados no meu canal, abordam temas delicados como os abusos que sofri na infância, as dificuldades do início da minha carreira e a fase em que precisei me prostituir, entre os 22 e 24 anos, para conseguir abrir o ateliê e me sustentar nesse período.

Falo com franqueza sobre o quanto minha aparência juvenil na época — rosto infantil, 1,54m de altura, 40kg — era usada como fetiche por homens pedófilos, e como, mesmo diante de tanto trauma, eu transformei minha dor em força. Meu objetivo sempre foi mostrar resiliência, e nunca vitimismo. Nunca escondi esse passado. Ele já foi relatado em podcasts e entrevistas anteriores, inclusive em 2021 e 2022. E ainda assim, essa mesma história, quando usada por mim como testemunho de superação, é transformada por essa página em munição para mais ataques.

Nos comentários, é possível notar o escárnio. O foco não está na empatia, mas na tentativa de deslegitimar minha fala, me ridicularizar e fomentar o deboche coletivo. Comentários como:


  1. “Tô caçando a cara de 12 anos até agora”;
  2. “O famoso vídeo onde ela mesmo disse que era boquinha de veludo… mano ela mesmo se queima”;
  3. “Eca” e
  4. “Ela admite que queria cobrar um projeto sem contrato??”
  5. são exemplos do quanto a página permite e, por vezes, até incentiva comentários maldosos, misóginos e capacitistas, sem qualquer curadoria ética.

Tema: Prostituição, aparência jovem, abusos e trajetória de superação

❌ Comentários com teor 

criminoso ou discriminatório

  1. “TÔ CAÇANDO A CARA DE 12 ANOS ATÉ AGORA” — Gabriella
  2. ➤ Tipo: Deboche com conotação sexualizada infantil
  3. ➤ Gravidade: Esse comentário minimiza uma denúncia de exploração sexual e fetichização infantil, além de reforçar estereótipos pedófilos como se fossem motivo de piada.
  4. ➤ Possível enquadramento: Art. 217-A (abuso de menor) e art. 241 do ECA (comentário que banaliza práticas abusivas).
  5. “O famoso vídeo onde ela mesmo disse que era boquinha de veludo… mano ela mesmo se queima” — Rita Bobe
  6. ➤ Tipo: Sexualização pejorativa / exposição vexatória
  7. ➤ Gravidade: Reforça estigmas sobre profissionais do sexo e reduz a fala de superação a uma piada sexual, ignorando o trauma relatado.
  8. ➤ Possível enquadramento: Injúria com teor sexual / violência simbólica contra mulher.
  9. “Eca” — Kelly Cardoso
  10. ➤ Tipo: Comentário ofensivo e capacitista/sexista
  11. ➤ Gravidade: Uma palavra, mas com alto potencial de desumanização. O comentário está diretamente relacionado ao relato de abuso e prostituição.
  12. ➤ Possível enquadramento: Injúria e discurso de ódio.

❓ Comentários de 

deboche ou ironia velada

  1. “Carinha de criança? Sério? Se for assim, eu com meus 31 anos tenho cara de 21 tbm!” — Makes & Manias da Andressa
  2. ➤ Tipo: Ironia disfarçada de humor
  3. ➤ Leitura: Sugere que o relato sobre aparência infantil é mentira ou exagero. Tenta deslegitimar um dos elementos centrais da denúncia sobre fetichização infantil.
  4. “mano ela acha que isso defende ela de alguma forma?” / “ela admite que não fez croqui…” — Ana
  5. ➤ Tipo: Tentativa de descredibilização técnica + julgamento moral
  6. ➤ Leitura: A usuária usa a confissão honesta sobre falta de contrato ou croqui como ataque. Ignora o contexto e ironiza a vulnerabilidade da fala.
  7. ➤ Perigoso: Distorce o sentido de uma confissão espontânea e a transforma em argumento para deslegitimar a profissional.


✅ Comentários neutros ou empáticos

  1. “Eu não sabia dessa história dela. Fiquei triste.” — Jéssica Costa
  2. ➤ Tipo: Comentário sensível, demonstrando empatia.
  3. ➤ Leitura: Raro exemplo de alguém que escutou a história com humanidade.
  4. “O pronunciamento que era sobre a Patrícia virou história da minha vida parte 3 kkkkkkk” — Taís Siqueira
  5. ➤ Tipo: Humor leve, sem agressão.
  6. ➤ Leitura: Apesar do tom de brincadeira, demonstra que o vídeo despertou alguma identificação.

🧨 Considerações Finais

  1. A curadoria da página: Ao permitir e manter visíveis comentários como “eca”, “boquinha de veludo” ou “cara de 12 anos”, a página compactua com a objetificação, o deboche e o silenciamento de vítimas de abuso sexual e exploração. Não há qualquer moderação ou aviso sobre o conteúdo sensível, o que agrava ainda mais a situação.
  2. Ambiente hostil: A maioria dos comentários são maldosos, machistas e desumanizantes, o que revela uma audiência educada a rir da dor alheia, incentivada por um perfil que seleciona trechos sensíveis da vida da estilista sem o menor contexto ou cuidado.
  3. Necessidade de responsabilização: Comentários como esses não são apenas ataques gratuitos — eles configuram violência psicológica e institucional digital, e precisam ser registrados, denunciados e, se possível, judicializados.

A intenção desses posts nunca foi informar. É desumanizar. É ignorar o contexto e transformar cada palavra minha em ferramenta de chacota — seja para me pintar como golpista, como mulher vulgar, ou como alguém incapaz de conduzir um negócio.

Mas minha história não será distorcida. Ela não começou em 2024 com ataques no TikTok. Ela começou muito antes — em Goiânia, na costura à mão, nos bastidores de um ateliê improvisado, nos clientes conquistados com coragem, e na luta diária para me manter viva e digna em um mercado que não acolhe mulheres como eu.


Não sou vítima do meu passado. Mas sou vítima, sim, da forma cruel como ele tem sido manipulado para me destruir.

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