Crimes de Ódio e Capacitismo: A Verdade por Trás dos Comentários da Página “Vítimas da Estilista”
Entre outubro de 2024 e setembro de 2025, fui alvo de uma das maiores campanhas de linchamento virtual já vistas no Brasil. Comentários publicados no perfil “Vítimas da Estilista” no TikTok não se limitaram a críticas ao meu trabalho, mas se tornaram um verdadeiro campo de ódio, perseguição e capacitismo explícito, atacando não apenas minha condição de pessoa com deficiência, mas também minha aparência, meu corpo, meus dentes, minha pele e até minha vida pessoal.
Ali, centenas de pessoas se sentiram à vontade para deixar comentários de ódio, perseguição e, principalmente, de cunho capacitista, muitas vezes disfarçados como “opinião” ou “crítica construtiva”.
Na prática, o que se via era a validação de crimes digitais, já que a própria página incentivava esse ambiente, interagia com comentários preconceituosos e alimentava o discurso de difamação. O resultado foi uma enxurrada de ataques direcionados a uma única pessoa, com base em sua deficiência, vida pessoal e escolhas profissionais.
O padrão dos comentários
Os comentários que reunimos neste post — coletados e printados ao longo de quatro meses — revelam um padrão claro:
Capacitismo: zombarias, insinuações pejorativas e ataques à deficiência, usados como forma de inferiorizar e ridicularizar.
Ódio mascarado de opinião: frases que aparentam crítica, mas carregam um viés de perseguição, insinuando incompetência, fraude ou incapacidade.
Perseguição organizada: a repetição de nomes, bordões e deboches cria a sensação de “comunidade do ódio”, normalizando o crime e incentivando outros a participar.
ue isso é crime
Não estamos falando de liberdade de expressão. Estamos diante de crimes de ódio e capacitismo, tipificados em legislações brasileiras e internacionais que protegem pessoas com deficiência contra discriminação e violência simbólica.
O ambiente criado por essa página não só expôs conteúdos difamatórios, como também legitimou a participação ativa de seguidores em ataques pessoais. Cada comentário se soma a uma engrenagem maior de perseguição, amplificando o dano emocional, social e profissional.
O objetivo deste post
e agora, vamos trazer alguns exemplos concretos desses comentários. Não para dar palco ao preconceito, mas para mostrar a gravidade do que foi dito, e como isso ultrapassa qualquer noção de “fofoca” ou “opinião” — trata-se de um crime sistemático de linchamento virtual e capacitismo.
Este texto reúne alguns desses comentários com data e autoria, para mostrar que não se trata de opinião, mas sim de crime, previsto em lei e passível de responsabilização judicial.
O impacto na minha vida
ses ataques constantes e públicos geraram efeitos devastadores:
Cancelamentos de contratos e prejuízos financeiros.
Abalo emocional profundo, agravado por comentários repetidos sobre meu corpo e minha deficiência.
Descredibilização profissional, ao sugerirem que eu não costuro ou que meus vestidos são colados com cola quente.
Isolamento social, quando ironizam minhas relações pessoais e questionam até minha existência como pessoa com deficiência.
Cada comentário, curtida ou risada registrada nesse espaço foi mais do que uma ofensa: foi parte de uma campanha organizada para destruir minha reputação e dignidade.
Exemplos de Comentários
1. Capacitismo direto (mãos, corpo, deficiência)
@Miyuki Duarte – “quantas mãos ela tem?” (21/12/2024)
@Fantasy2024 Meireles – “as mãos me dão uma aflição” (21/12/2024)
@Fantasy2024 Meireles – “tenho aflição das mãos da Lisa Simpson” (22/12/2024)
@Ivana Carla Leite Le – “gente me dá uma agonia as mãos dela… Deus me perdoe” (13/12/2024)
@Rute (15/10/2024): “Não interessa absolutamente nada o que essa coisa passou…” → Desumanização, reduzindo minha identidade a “coisa”.
@Ana (21/11/2024): “Ela nasceu com a deficiência ou foi acidente?” → Invasão de privacidade capacitista, transformando a deficiência em espetáculo público.
@DanielleAlmeida (20/10/2024): “Eu tenho para mim que ela não faz esses vestidos, deve comprar da China” → Difamação profissional.
@Mussi (19/10/2024): “O narcisista… hora de procurar nova bengala para se escorar” → Capacitismo + difamação, atacando minha mobilidade.
@Amandita (29/11/2024): “Se faz de vítima porque tem deficiência nas mãos” → Comentário de capacitismo disfarçado de opinião, reforçando preconceito.
@Joilee (24/10/2024): “Estiliana Julinista kkkkkkk” → Escárnio público, ridicularização.
@sandradacipo (25/10/2024): “Sou deficiente, mas não acredito que ainda tem gente que paga pra você” → Capacitismo internalizado usado como ataque.
@thais (25/10/2024): “O ruim de tudo isso é que agora a gente precisa se submeter a escutar ela” → Escárnio e tentativa de silenciamento.
@BoraReservar!! (19/11/2024): “Devido às limitações dela esse tipo de trabalho é difícil…” → Preconceito velado, mascarado como “opinião técnica”.
@Marcela (15/12/2024): “Só consigo prestar atenção nos dentes…” → Ataque estético, humilhação pública.
Por que Isso É Capacitismo?
Capacitismo é toda forma de discriminação, preconceito ou violência contra pessoas com deficiência. Quando alguém diz sentir “aflição das mãos dela”, está reforçando a ideia de que corpos fora do padrão são errados ou repulsivos. Quando alguém questiona publicamente se minha deficiência “foi acidente ou não”, transforma uma questão íntima em espetáculo. Quando alguém associa meu trabalho a uma suposta incapacidade física, está negando minha competência profissional pelo simples fato de eu ser PCD.
Esses comentários reduzem minha identidade à deficiência, tratando minhas mãos como objeto de nojo e chacota. Isso é capacitismo explícito e está previsto como crime na Lei Brasileira de Inclusão (Lei 13.146/2015).
2. Ataques à aparência (dentes, pele, rosto)
@Marcela – “só consigo prestar atenção nos dentes…” (15/12/2024)
@Milenar – “ela é tão feia que me dá ódio” (13/12/2024)
Outros perfis – comentários sobre pele “suja”, “crosta”, “estranha”.
Aqui vemos o uso de insultos direcionados à estética como forma de humilhação pública. São ataques que nada têm a ver com meu trabalho, servindo apenas para reforçar o ódio coletivo.
3. Descredibilização profissional
@Danielle Almeida – “ela não faz os vestidos, deve comprar da China” (20/10/2024)
@Josuke sem topete – “sempre me perguntei como ela segura a agulha” (20/10/2024)
@Dicasdiariasdaca – “ela faz os vestidos com super bonder, nem bordado é” (03/12/2024)
Comentários assim tentam destruir minha reputação profissional, espa
lhando mentiras difamatórias para invalidar anos de trabalho sério.
4. Ofensas pessoais e morais
@Rute – “não interessa absolutamente nada, só interessa entregar o trabalho, essa coisa…” (15/10/2024)
@Suellen Soares – “ela é uma metralhadora de vitimismo, daqui a pouco abre vaquinha” (19/10/2024)
@Mussi – “narcisista… daqui a pouco vai procurar nova bengala pra se escorar” (19/10/2024)
Esses exemplos mostram o uso de termos que desumanizam (“coisa”), banalizam meu sofrimento (“metralhadora de vitimismo”) e atacam minha deficiência de forma cruel (“nova bengala”).
Por que isso é capacitismo e crime?
O capacitismo está presente sempre que a deficiência é usada como motivo de ataque, deboche ou descrédito. Quando alguém escreve “aflição das mãos dela”, não está emitindo opinião inocente: está reforçando estereótipos de repulsa contra pessoas com deficiência.
Além disso, ao me chamar de “coisa”, dizer que “sou feia”, ou insinuar que meus vestidos são “colados com cola quente”, os autores ultrapassaram qualquer limite de liberdade de expressão, praticando crimes previstos no Código Penal:
Art. 138 – Calúnia
Art. 139 – Difamação
Art. 140 – Injúria
Lei 13.146/2015 – Discriminação contra pessoa com deficiência
A responsabilidade jurídica
Cada comentário desses tem um autor, uma data e uma marca digital. Não importa se foi escrito em tom de piada ou deboche: todos poderão responder criminalmente.
Deixar comentários desse tipo em uma rede social não é inofensivo. O Código Penal brasileiro prevê responsabilização criminal para práticas de:
Injúria (art. 140) → quando alguém ofende a dignidade ou o decoro de outra pessoa.
Difamação (art. 139) → quando alguém imputa fato ofensivo à reputação de outrem.
Calúnia (art. 138) → quando alguém acusa falsamente de um crime.
Discriminação contra PCD (Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência – Lei 13.146/2015) → que criminaliza qualquer forma de discriminação baseada na deficiência.
Isso significa que cada arroba listado aqui poderá ser acionado judicialmente e responder criminalmente por seus atos. A internet não é terra sem lei. Comentários têm dono, têm autoria, têm consequências.
Conclusão
O objetivo desta publicação não é apenas expor a violência que sofri, mas também educar e alertar:
O capacitismo mata sonhos, destrói carreiras e adoece pessoas.
O ódio não é opinião, é crime.
E todo comentário deixado na internet pode — e deve — ser responsabilizado juridicamente.
A internet não é terra sem lei.
Quem ataca com base em deficiência responde por capacitismo.
Quem difama um profissional responde por difamação.
Quem reduz alguém a “coisa” responde por injúria e desumanização.
Esses prints são provas vivas de que a perseguição não foi isolada, mas sim sistemática e incentivada.
O objetivo deste post é denunciar, registrar e educar.
Denunciar os crimes cometidos contra mim.
Registrar, com prints e datas, a gravidade dos ataques.
Educar para que ninguém confunda mais ódio com opinião.
Se você já sofreu capacitismo ou linchamento virtual, saiba que você não está só.
Se você já comentou algo parecido, saiba: isso não é piada, é crime.
E a justiça será feita.
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